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Economia de mercado sem capitalismo

       Uma visão de conjunto das idéias básicas, as origens históricas das idéias e o estado atual da arte, entidades e literatura complementar

 

Werner Onken – Tradução para o português de Rudi Braatz

 

 

Dinheiro: De dominador dos mercados ...

 

            Em 1891 o comerciante teuto-argentino Silvio Gesell (*1862 em St. Vith junto a Eupen/Malmedy, + 1930 no assentamento de uma cooperativa empenhada na reforma do direito sobre a terra denominada Eden-Oranienburg) publicou em Buenos Aires seu primeiro folheto „A reforma no âmbito da moeda como ponte para o Estado social“. Esta publicação foi a pedra fundamental para uma obra abrangente relativa às causas da deterioração social e a respeito dos caminhos para a sua solução.  As experiências práticas de Gesell durante uma crise econômica à época, na Argentina, o levaram a idéias que refutavam o marxismo: a exploração do trabalho humano não tem suas raízes na detenção dos meios de produção por parte dos entes privados e sim nos erros estruturais do sistema monetário. Como já constatado por Aristóteles, o filósofo da antigüidade, existe uma contradição na função dupla do dinheiro, de servir como meio de troca para o mercado e ao mesmo tempo como instrumento dominante sobre o mercado.

    A pergunta básica de Gesell era: Como se pode superar esta condição que o dinheiro detém de ser instrumento de poder usurário, sem ao mesmo tempo eliminar a função neutra que possui de meio de troca?  O poder do dinheiro sobre os mercados tem, segundo ele, duas causas: Em primeiro lugar, o dinheiro convencional como instrumento de demanda, diferentemente do trabalho humano ou dos bens e serviços no lado da oferta na economia, pode ser estocado, sem prejuízo apreciável para seu detentor e pode ser retido temporariamente de circulação por motivos especulativos.   Em segundo lugar, o dinheiro possui a vantagem de ser muito mais transferível do que os bens e serviços, podendo, como o Coringa no jogo de cartas, ser utilizado a qualquer tempo e em qualquer lugar.

    Estas duas características propiciam ao dinheiro – especialmente aos detentores de grandes somas – um privilégio especial: Podem interromper o circuito de compras e vendas, de poupar e de investir ou ainda exigir dos consumidores e produtores um juro como prêmio especial para que abram mão doe entesouramento ou de sua aplicação financeira em títulos de curto prazo e devolvam o dinheiro à circulação da economia real.

    O poder estrutural do dinheiro consiste não apenas no efetivo entesouramento, sendo suficiente o conhecimento de que existe a possibilidade de que haja uma interrupção da circulação para que os processos econômicos no organismo social sejam obrigados a servir o dinheiro, antes de tudo, com uma taxa de juros. A rentabilidade tem primazia sobre a economicidade. A produção é condicionada muito mais pelos juros sobre o dinheiro do que pelas necessidades das pessoas.

        Taxas de juros perenemente positivas perturbam o auto ordenamento descentralizado dos mercados que dependem do necessário equilíbrio entre lucros e prejuízos.

        Segundo Gesell, estas levam à perda de saúde do organismo social, com sintomas complexos: O dinheiro, que não é neutro, pois recebe juros, provoca uma redistribuição injusta de renda e efeitos nocivos à produção, que por sua vez leva à concentração de dinheiro e de bens tangíveis.

        Como os detentores do dinheiro tem o comando sobre a circulação ou a paralização do dinheiro, este não pode fluir „por conta própria“ através do organismo social como o sangue através do corpo humano. Por isso não é possível exercer um controle social sobre a circulação do dinheiro e uma dosagem correta da quantidade de moeda; flutuações deflacionárias e inflacionárias do nível geral de preços não podem ser evitados.

    E quando, neste sobe e desce da conjuntura, grandes somas de dinheiro são substraídas dos mercados em função de taxas de juros declinantes, até que as perspectivas de aplicações mais rentáveis se tornem melhores, acontecem retenções nas vendas e desemprego.

 

... para um servidor neutro dos mercados

 

            Gesell não imaginou um regresso à proibição de cobrança de juros do direito canônico da escolástica medieval e tampouco na eliminação dos assim chamados „usurários judeus“ como forma para tirar o poder do dinheiro.    Imaginava, isto sim, uma modificação institucional do sistema monetário de modo que a retenção de dinheiro em caixa representasse custos para quem o fizesse, neutralisando, assim, as vantagens do entesouramento e da liquidez.

        No momento em que houver uma taxa associada ao entesouramento do dinheiro – comparável ao pagamento de vagões de carga parados em um sistema de transportes - , o dinheiro perderia a sua supremacia sobre os mercados e cumpriria então tão somente sua função útil de meio de troca.  

    No momento em que sua circulação não puder mais ser perturbada com manobras especulativas, será possível adequar a quantidade de moeda em circulação ao volume de bens, assim que o poder aquisitivo do dinheiro permanecerá tão estável como os pesos e medidas.

   Em seus primeiros textos sobre o tema Gesell se referia expressamente a „notas de dinheiro enferrujáveis“ como um meio para „a reforma orgânica do sistema monetário“. Desta forma o dinheiro, que até então era um „corpo estranho morto“, tanto no organismo social como no conjunto da natureza, passaria a se integrar no eterno morrer e nascer de todas as formas de vida; se tornaria ao mesmo tempo perecível e perderia sua característica de, através do juro e do juro composto, se multiplicar infinitamente.

         Uma reforma do sistema monetário nestes moldes seria uma terapia de regulação macroeconômica que dissolveria os bloqueios no fluxo do dinheiro e ajudaria o organismo social doente a gradualmente auto-curar-se dos inúmeros sintomas de crise de caráter conjuntural e estrutural. Isto levaria ao  equilíbrio estável e permitiria a incorporação harmônica na ordem geral da natureza.

       Em sua obra principal, „A ordem econômica natural através de terra livre e dinheiro livre“, Gesell detalhou como, na ausência de perturbações na circulação do dinheiro, a oferta e a demanda de capital se equilibram, fazendo com que o nível de juros possa cair abaixo de seu menor nível usual, isto é, de juros reais de três por cento ao ano. O „juro primitivo“, que é o tributo ao poder do dinheiro das pessoas que trabalham, desaparece como componente dos juros, que passa a consistir apenas dos componentes de prêmio de risco e de taxa de serviço de intermediação dos bancos. As flutuações das taxas de juros de mercado em torno desta nova taxa de juros de equilíbrio fariam com que havesse um direcionamento descentralizado das poupanças para investimentos de demanda legítima. Estas porém se ajustam reciprocamente.

    O „dinheiro livre“, liberado do „juro primitivo“, se tornaria neutro no que se refere à distribuição e não poderia mais atentar contra os interesses dos ofertantes e demandandes e não exerceria mais uma influência negativa sobre a maneira e a abrangência da produção.

    Ao dispor da totalidade do produto do trabalho colocaria amplas camadas da população em condições de abdicar de relações de trabalho dependentes de salário para se tornarem autônomas ou cooperativadas, assim espera Gesell.

 

Terra: Fundamento de vida comunitária ao invés de bem de comércio, bem de capital e objeto de especulação

 

    Na passagem do século 19 para o 20, Gesell ampliou sua concepção de reforma do sistema monetário para incluir a exigência de reforma também do direito à terra. O estímulo para estas idéias ele obteve da leitura de obras dos reformadores do direito sobre a terra norteamericanos Henry George (1839 – 1897), cujos conceitos foram difundidos na Alemanha por Michael Flürscheim (1844 – 1912) e por Adolf Damaschke (1865 - 1935). Em contraposição à proposta de Damaschke, de que na manutenção do direito privado sobre a terra, que somente o acréscimo de valor fosse tributado em favor do bem comum, Gesell seguiu a sugestão de Flürscheim de que a terra detida atualmente pelos entes privados deveria ser desapropriada mediante indenização pelo Estado e arrendada pelas melhores ofertas para uso privado.  Enquanto a terra for um bem de comércio e um bem de capital, prestando-se à especulação, a ligação orgânica do homem com a terra será perturbada. 

    Diferentemente dos ideólogos populistas-nacionalistas, para Gesell suas idéias não tratam de uma ligação entre sangue e terra. Como cidadão do mundo, considera o mundo todo como um órgão de cada um de seus habitantes humanos. Cada pessoa deveria poder perambular livre pelo planeta e se estabelecer em qualquer lugar, independente de origem, cor da pele e religião. Tanto a superfície da terra como os recursos naturais do sub-solo deveriam ser encarados como bem comum. Deveria ser estabelecida uma instituição internacional para a administração dos recursos naturais como propriedade da humanidade, cobrando pelos direitos de exploração

 

Equiparação econômica de homens e mulheres

 

    Inicialmente Gesell imaginou, como os outros reformadores do direito sobre a terra, que o Estado, com as receitas advindas do arrendamento das terras, poderia chegar a ponto de financiar todas as suas funções sem ter que recolher impostos adicionais (imposto único). Ao examinar a questão, contudo, de quem seria de fato o beneficiário das receitas de arrendamento, segundo o princípio causal, constatou que o montante arrecadado de arrendamento é função da densidade demográfica. Isto é, da disposição das mulheres de colocar filhos no mundo e educá-los. Por isso Gesell sugeria que as receitas de arrendamento fossem pagas mensalmente às mães segundo a quantidade de filhos menores – inclusive os filhos naturais e até mesmo para as estrangeiras residentes na Alemanha.

    Todas as mães deveriam ser liberadas da dependência econômica dos pais trabalhadores. A relação entre o sexo masculino e feminino deveria ser colocada no contexto do amor livre das influências das relações de poder. 

    Numa palestra entitulada „A ascenção do ocidente“, Gesell manifestou a esperança de que a humanidade, adoentada fisica, mental e espiritualmente pelo capitalismo, poderia gradualmente ser curada num contexto sem privilégios e monopólios e de competição  livre e natural, ascendendo a um novo florescimento cultural.

 

Outros pioneiros da economia de mercado sem capitalismo

 

       A teoria da terra livre e do dinheiro livre foi uma reação tanto para o princípio do laisser-faire proposto pelo liberalismo clássico como para as concepões de planemamento central do marxismo. Ela não é um terceiro caminho entre o capitalismo e o comunismo como outras teorias convergentes posteriores ou as chamadas „economias mistas“, ou seja, economias de mercado dirigidas globalmente pelo Estado. Trata-se, isto sim, de uma alternativa além de qualquer sistema até agora posto em prática.

       Gesell avançou além das idéias do reformador social francês Pierre Joseph Proudhon (1809 –1865), que já na metade do século XIX responsabilizou a posse privada da terra e o poder do dinheiro que recebe juros pelo fato de, ao final do absolutismo feudal, não se chegar à sociedade livre de dominação. Para Proudhon a renda privada da terra era um roubo e e juro um câncer de crescimento descontrolado. Estas formas de renda exploratórias fizeram com que surgisse a grande burguesia como nova classe dominante que habilmente utilizou o Estado e a igreja como instrumentos de domínio sobre a pequena burguesia e os operários.

    O modelo econômico alternativo de Gesell se assemelha também às idéias inspiradas em Proudhon do socialismo libertário do filósofo cultural Gustav Landauer (1870 – 1919) que, por sua vez, enfluenciou fortemente Martin Buber (1878 –1965). Há ainda um certo paralelismo de idéias com o médico e sociólogo Franz Oppenheimer (1861 – 1943) e com a tripartição social do fundador da Antroposofia de Rudolf Steiner (1861 – 1925).

 

As primeiras organizações na Alemanha e na Suíça, durante a Primeira Guerra Mundial

 

    O primeiro colaborador de Gesell, Georg Blumenthal (1878 – 1929), combinou a reforma do direito  sobre a terra e a reforma do sistema monetário com a idéia de uma „ordem natural“ da sociedade, com a qual François Quesnay (1694 –1774) e outros fisiocratas da época do Racionalismo francês confrontaram o absolutismo feudal.

    Em 1909 ele fundou a Sociedade Fisiocrata como primeira organização dos seguidores de Gesell, composto de defensores da reforma do direito sobre a terra, de anarquistas individualistas e de sindicalistas das cidades de Berlim e de Hamburgo.

    Quando o periódico „O Fisiocrata“ foi vítima da censura durante a Primeira Guerra Mundial, Gesell se mudou para a Suíça, onde encontrou seguidores entre reformadores do direito sobre a terra, pedagogos reformadores e reformadores preocupados com questões de nutrição. Eles se uniram na Associação Suíça do Terra Livre-Dinheiro Livre. Em duas palestras, „Ouro e Paz“ e „Terra Livre, a promoção central da paz“, Gesell se ocupou do significado de suas propostas de reforma como caminhos para a justiça social e para a paz entre os povos. 

 

No interregno das duas guerras mundiais

 

    Após o final da primeira guerra mundial e da revolução de novembro na Alemanha, a conecção de Gesell com Gustavo Landauer levou  à colaboração de curta duração como Ministro de Finaças no primeiro governo de conselhos da Baviera. Depois da queda destes, inicialmente foi denunciado por alta traição, mas mais tarde inocentado desta acusação.

    Então se mudou para as proximidades de Berlim, de onde observou o desenvovimento da República de Weimar, publicando comentários sobre o tema em diversos artigos e cadernos. Na ocasião sugeriu que houvesse uma entrega parcelada de até 75% do patrimônio dos grandes proprietários de terras e do grande capital para amortização das penalidades da guerra e, ao mesmo tempo que fosse iniciada a formação interna de capital a partir da reforma do direito da terrra e do sistema monetário, habilitando a Alemanha a cumprir as exigências de reparação dos países vencedores. Incansavelmente Gesell protestava contra o fato de os governos que rapidamente se alternavam no poder estivessem, pelo contrário, pilhando ainda mais as camadas inferiores da população, pela grande inflação, em favor dos mais bem aquinhoados. Além disso, que estariam desviando os recursos destinados às reparações, que estariam tornando a Alemanha dependente do capital externo e que introduziram uma moeda lastreada em ouro que agravava ainda mais a crise.

    Muito cedo Gesell se distanciou de ideologias racistas e anti-semitas. Ao mesmo que tempo que foi muito influenciado pela teoria evolucionista de Darwin, contestava o pensamento darwinista no âmbito social.     Contrapondo-se ao nacionalismo exagerado, defendia o entendimento com os vizinhos ocidentais e orientais da Alemanha. A política expansionista dos Estados nacionais deveria ser substituída por uma federação de Estados europeus, distituída de poder. 

    Além disso, Gesell desenvolveu idéias incipientes sobre uma ordem monetária internacional pós-capitalista. Defendia um mercado mundial aberto sem monopólios capitalistas e sem alfândegas, sem protecionimos nacionalistas e sem subjugação colonialista. Diferentemente de instituições posteriores como o FMI, o Banco Mundial e a OMC, que no âmbito das estruturas injustas existentes representam os interesses do poderosos, Gesell sugeria a criação de uma „Associação Internacional da Valuta“ (em latim se refere a dinheiro N.T.), que emitiria uma moeda mundial neutra que estaria acima de todas as moedas nacionais, administrando-a de tal modo que conduza ao equilíbrio das relações comerciais internacionais.

    A inflação galopante dos primeiros anos pós-guerra contribuiu para um rápido crescimentos dos adeptos de Gesell, que chegou a 15.000 membros.     Desagregou-se, contudo, a partir de 1924, migrando para a União de Economia Livre, de caráter moderado e liberal e para a União de Luta Fisiocrata dos radicais individualistas e anarquistas. Para esta cisão contribuiu a dura controvérsia surgida em torno das concepções de Gesell sobre a „desmontagem do Estado“.  Disputas internas entre as facções enfraqueceram o movimento. Não tendo conseguido transformar-se em movimento de massa, procurou diversas aproximações com a democracia social e com os movimentos pela paz, dos jovens e das mulheres em todo o período da República de Weimar.

    Durante a grande crise econômica mundial a União de Economia Livre enviou memorandos a todos os partidos representados no Reichstag (Parlamento alemão), nos quais alertaram para as conseqüências devastadoras da então política deflacionária e apresentavam sugestões para a superação da crise. Estes memorandos não tiveram ressonância. Quando as experiências práticas da União de Luta Fisiocrata com dinheiro livre começou a chamar a atenção, estas foram proibidas. Nas eleições de 1932 para o Reichstag, o Partido de Economia Livre não obteve sucesso. Depois da tomada de poder pelos nacional-socialistas, uma parte dos adeptos de Gesell adotou posturas oposicionistas, tendo sido, então, objeto de perseguição política.

    Outra parte dos adeptos ignorou o verdadeiro caráter da ideologia nacional-socialista e alimentavam a ilusória esperança de que Hitler e Gottfried Feder talvez pudessem caminhar na direção de efetivamente „quebrar o servilismo ao juro“. Daí resultou a tentativa de influenciar internamente o Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista (NSDAP), mudando a orientação de economia política de funcionários da cúpula.    Apesar das questionáveis adaptações táticas ao regime, as organizações de economia livre e seus meios de comunicação foram proibidos ou então se dissolveram expontaneamente. Contribuíram para suas avaliações errôeas do regime totalitário os dolorosos rechaços dos partidos de Weimar, bem como a falta de clareza sobre o caminho para a concretização das reformas do direito da terra e do sistema monetário.

    Na Áustria (até 1938) e na Suíça continuaram a existir Uniões de Economia Livre. Da obra principal de Gesell surgiram traduções para o inglês, francês e espanhol. Folhetos introdutórios surgiram, além disso, nos idiomas dos países baixos, português, tcheco, romeno, serbo-croata e até esperanto.     Correspondentemente surgiram pequenos grupos na Inglaterra, França, Países Baixos, Bélgica, Theco-Eslováquia, Romênia e Iugoslávia. Nos Estados Unidos e na América do Sul, Austrália e Nova Zelândia estas associações surgiram a partir de imigrantes alemães.

 

Após 1945: Recomeço, Esquecimento e Revitalização a partir do final da década de 1970

 

    Em todas as zonas de ocupação da Alemanha surgiram novas organizações de economia livre. Na zona de ocupação soviética estas foram fechadas em 1948, pois os detentores de poder consideravam Gesell um apologista da burguesia monopolista ou então, da mesma forma como o opositor de Marx, Proudhon, como um „socialista pequeno-burguês“, cujos objetivos eram considerados irreconciliáveis com o „socialismo científico“.

    Na Alemanha Ocidental, a maioria dos adeptos remanescentes de Gesell optou por um engajamento político em partido próprio, em função das experiência com os partidos de Weimar. Criaram o Partido Radical Socialista da Liberdade que, nas eleições de 1949 para o Parlamento Alemão receberam um pouco mais de 1% dos votos. A partir daí passou a denominar-se União Socialista Livre e obteve resultados insignificantes em outras eleições.        Como sede para os encontros foi mantida a Casa-Silvio-Gesell em Wuppertal/Neviges.

    O milagre econômico alemão ocidental, durante os anos 50 e 60, fez com que diminuísse consideravelmente qualquer interesse em alternativas de sistema politico-econômico, apesar de economistas como Irving Fisher e John Maynard Keynes terem reconhecido o significado de Silvio Gesell.     Somente ao final do anos 70, em função de desemprego em massa, de danos ao meio ambiente e a crise mundial de endividamento, voltou a surgir interesse no modelo quase esquecido de uma economia alternativa proposto por Gesell. Com isto também foi possível a mudança de geração entre seus adeptos.

    No Arquivo de Economia Suíço da cidade da Basiléia existe uma biblioteca dedicada à Economia Livre. Na Alemanha, a Fundação para a Reforma do Sistema Monetário e do Direito sobre a Terra, começou a construir uma biblioteca dedicada à Economia Livre em 1983. Como base para a pesquisa científica sobre as teorias de Silvio Gesell, a Fundação editou 18 volumes de suas obras completas, entre 1988 e 1997.     A partir daí está sendo editada uma série de livros abrangidos por um título geral „Estudos para a Ordem Econômica Natural“, com uma visão abrangente dos cem anos de história do movimento por uma economia natural e livre, bem como por uma seleção das obras do principal discípulo de Gesell, Karl Walker.

    A Fundação também estimula a publicação de outras obras sobre a questão do Direito da Terra e do Sistema Monetário e edita, em conjunto com a Sociedade Científica Socialista, uma revista „Zeitschrift für Sozialökonomie“.     Além disso, outorgou, em 1988 e 1995, o „Prêmio Karl Walker“ a trabalhos científicos sobre a autonomia dos mercados financeiros em contraposição à economia real, bem como sobre os caminhos para a superação do desemprego.

    Um Seminário a respeito da ordem econômica livre publicou uma série de textos sob o título „Questões da Liberdade“. Em paralelo, existe uma Iniciativa para uma Ordem Econômica Livre que se empenha em popularizar as idéias de Gesell, junto com outras organizações da Suíça e da Áustria. Uma Associação Cristã para uma Ordem Econômica Justa conecta as concepções em torno das reformas do direito da terra e do sistema monetário com a crítica judia-cristã-mussulmana à especulação com a terra e à cobrança de juros. Margrit Kennedy, Helmut Creutz e outros autore(a)s trabalham na atualização das bases intelectuais de Gesell. Estes autores estão tratando da questão das relações entre o crescimento exponencial dos patrimônios monetários e das dívidas com o crescimento danoso ao meio ambiente da economia real. Querem achar uma caminho para superar o crescimento compelido (para alimentar os juros) e para encontrar uma relação entre as reformas do direito sobre a terra e do sistema monetário com um sistema tributário de caráter ecológico.

       O livro „Dinheiro Justo – Mundo Justo“ representa um balanço intermedário sobre o estado da arte do desenvolvimento destas teorias. O livro contém as contribuições apresentadas em uma Conferência de 1991 em Constança sob o título „100 anos de idéias sobre uma ordem econômica natural – saídas para o crescimento compelido e para a catástrofe do endividamento“.

    A derrocada dos socialismo de Estado na Europa Central e Oriental proporcionou um triunfo temporário ao capitalismo ocidental na batalha dos sistemas. Porém, enquanto os contrastes entre pobreza e riqueza e, como conseqüência, persisitirem crises e guerras; enquanto o meio ambiente estiver sendo destruído por crescimento exponencial e enquanto o Norte industrializado continuar expoliando o Sul sem qualquer consideração, é necessária a busca por alternativas para os sistemas econômicos atuais. E nisto poderia estar a perspectiva de futuro do modelo concebido por Silvio Gesell de Terra Livre e Dinheiro Livre.

 

                                                                     

Literatura complementar

 

Silvio Gesell, El Orden Economico Natural por Libremoneda y Libretierra, Buenos  

   Aires 1936 (Tomo 1 y 2) y 1945 (Tomo 3).

Oreste Popescu, Ensayos de doctrinas economicas argentina: Belgrano, Echeverria,

   Gesell, La Plata 1963.

Santiago Fernandes, Ouro – a reliquia barbara: De Bretton Woods ao FMI no Rio,

   Rio de Janeiro 1967.

Santiago Fernandes, A Libertacao Economica do Mundo pelo esquecido Plano

   Keynes, Rio de Janeiro 1991.

Werner Onken, Teologia y Economia de la Liberacion  -  America latina: 500 anos

   de muerte, despojo y exploracion, en: socialismo y participacion (Lima/Peru) No.

   59 / 1992, p. 53 – 69. (Portuguese translation : Teologia da libertacao e economia

   da libertacao  -  1492 – 1992, 500 anos de morte, ocupacao e expolacao na

   America Latina  -  www.geldreform.de)

Margrit Kennedy, Dinero sin inflacion ni tasas de interés, Buenos Aires 1998.

   (Editorial del Nuevo Estremo, ISBN: 950-9681-69-5, Internet:

   www.nextremo@arnet.com.ar)

Silvio Gesell, Natural Economic Order (1929), London 1958.

Irving Fisher, Stamp Scrip, New York 1933.

John Maynard Keynes, General Theory of Employment, Interest and Money,

   London 1935 (Chapter 16, 23 and 24).

Roy Harrod, Towards a Dynamic Economics, London 1948 (Chapter “Is Interest

   out of Date?”).

Dudley Dillard, Proudhon, Gesell and Keynes  -  An Investigation of some ‘Anti-

   Marxian-Socialist’ Antecedents of Keynes’ General Theory (Dr.-thesis university

   of California 1949), D - St. Georgen 1997 (ISBN: 3-929741-14-8).

Lawrence Klein, The Keynsian Revolution, London 1966 and 1980 (Chapter 5, p.  

   124 – 152).

Dieter Suhr, The Capitalist Cost-Benefit Structure of Money: An Analysis of

   Money’s Structural Nonneutrality and its Effects on the Economy, New York

   1989.

William Darity Jr., Keynes’ Political Philosophy: The Gesell Connection, in:

   Eastern Economic Journal Vol. 21, No. 1, Winter 1995, p. 27 – 41.

Marvin Goodfriend, Overcoming the Zero Bound Interest Rate Policy, in: Journal  

   of Money, Credit and Banking Vol. 32, No. 4 / 2000, p. 845 – 869.